quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

é por estas e por outras....




Uma mente brilhante (texto «roubado» daqui)

PARTE UM


Um dia conheci um menino que na ocasião tinha 4 anos de idade. Franzino, destacavam-se nele uns olhos muito vivos e um comportamento bastante amadurecido. Trazia uma pequena enciclopédia de astronomia quando entrou no meu gabinete.

Foi a criança que, até hoje, mais me surpreendeu pelas aptidões intelectuais que revelava. Além de demonstrar um conhecimento muito diversificado de matérias, o que lhe assegurava uma extraordinária cultura geral, exibia uma invulgar capacidade de raciocínio. Conversar com ele mostrou-se uma experiência deliciosa. A sua linguagem era fluente, rica de vocabulário e muito expressiva.

A dado momento perguntou-me se eu sabia qual era o maior perigo que o planeta Terra atravessava. Alertou-me logo que eu deveria pensar em algo mais afastado no tempo do que os anos próximos; ele referia-se ao futuro da Terra enquanto astro. Percebi de imediato que dar uma resposta como “aquecimento global”, “poluição” ou “guerra mundial” talvez não fosse o que ele esperava.

Curioso, respondi-lhe com uma pergunta: “O que é que te preocupa?”. Percebeu a minha estratégia e esclareceu-me de imediato que andava a investigar como a Terra iria desaparecer. Pensei logo nas várias possibilidades que têm sido colocadas pelos cientistas: uma colisão com algum objecto gigante do espaço, uma catástrofe natural de dimensões inimagináveis, o definhamento do próprio planeta, etc. Voltei a fazer-lhe uma outra pergunta: “Qual é a tua teoria?”.

O miúdo, vendo o meu interesse, reagiu de imediato com uma resposta que me iria deixar boquiaberto: “A Terra vai afundar-se no Espaço!”... “Como?!” – retorqui. Confesso que nunca ouvira falar de tal coisa. E insisti, já cheio de curiosidade: “Ora explica-me isso. Onde aprendeste essa teoria?”. Resposta imediata: “Em lado nenhum. Fui eu que criei essa teoria!”.

Recostei-me na cadeira, respirei fundo. Rebobinei o filme todo: à minha frente tinha um miúdo de 4 anos e 2 meses de idade que me informava ter uma teoria sobre o fim do planeta Terra! Só me restava continuar. “Ok, sou todo ouvidos.” - disse-lhe.

Para encurtar a história: o menino, que adorava astronomia e muitas coisas mais, encantado com a história do Universo, do nascimento e da morte dos astros ao longo dos tempos, defendia que a Terra sairia da órbita do Sol por “excesso de peso”, o que empurraria o planeta para “o fundo do Universo”. Ou seja, um dia, no futuro, e por força do aumento da população humana, a Terra começaria lentamente a afundar-se no Espaço desprendendo-se da força de atracção do astro-rei!

Cientificamente, a sua teoria não era credível. Penso eu. Mas, o que me fascinou na criança, foi a elaboração mental realizada. Devo dizer que simplifiquei esta história pois a conversa foi bem mais prolongada e envolveu uma acérrima argumentação por parte do miúdo acompanhada de uma série de “evidências científicas”.

O que retenho desse dia foi a extraordinária capacidade de raciocínio, os conhecimentos demonstrados e a perspicácia da argumentação de uma criança com apenas pouco mais de 4 anos de idade.
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PARTE DOIS
Passaram-se cinco anos. Com 9 anos de idade, recuara na sua “teoria” e aprendera a travar as suas ideias “amalucadas” (para usar a expressão de uma professora). O mundo, conforme a escola o estava a ensinar, era feito de realidades concretas e lógicas e que ele deveria aprender de forma organizada para se tornar numa pessoa culta. Apaziguou a sua mente fervilhante de ideias e travou os impulsos criativos. Deixara de explorar caminhos incertos, perdera a arte de questionar. Era um aluno “certinho”, “obediente”, “bem comportado”, aberto ao conhecimento aprovado pelos sábios da Educação. Aprendera também a reprimir pensamentos. Oxalá não se tenha perdido um futuro génio.
Texto de Nelson Lima

2 comentários:

  1. E tantos meninos desses devem existir.


    E tantas teoias amalucadas se vão perdendo...

    Bom domingo, um beijo e afinal, onde está o chocolate? :)

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  2. Olá, Prof!

    Este interessantíssimo texto fez-me lembrar a "Logical Song" dos Supertramp, cruzada com a "The Wall", dos Pink Floyd. Porque teria sido? :)

    Bom domingo!

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