quarta-feira, 15 de abril de 2009

PÁSCOA

Era do sexo feminino

Tinha 13 anos

Fora violada por 3 homens, quando ia visitar a avó

Procurara apoio das autoridades, após a violação.

Foi lapidada.

Foi morta à pedrada.

Desta e de outras ninguém fala. (Embora circulem na net alguns vídeos, gravados com telemóvel, em que se vêem outras mulheres a serem lapidadas e várias pessoas de telemóvel em punho, a filmar!)

Quanto muito fala-se da burka - às vezes, da anorexia ocidental, mas raramente em termos de escravatura ditada por uma ideologia; também se fala dos pés entrapados das chinesas mas pouco se diz dos saltos altos de agulha que dão cabo da coluna...

Das mulheres que continuam a morrer duplamente injustiçadas, nada se diz.

Espero que tenham tido uma santa páscoa!

10 comentários:

  1. Subscrevo inteiramente este post, e a revolta. Mas... o que é que a páscoa tem a ver com isto, a ponto de lhe sevir de título?!
    beijo,
    MJ

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  2. :-)
    o que tem a ver é que eu recebi n mails a falar de um homem que, alegadamente, foi apedrejado, humilhado e condenado à morte, injustamente, há cerca de dois mil anos; toda a gente que me enviou os mails falava desse homem com muita pena, coitadinho.
    Mas também diziam que ele se ofereceu em sacrifício, para nos salvar. Ora, para mim, essa história está mal contada, porque o pai dele não tinha nada de nos condenar por causa do alegado mal feito por um casal há ainda mais anos. E também não acredito que as fogueiras da inquisição salvassem ninguém; nem as espadas dos cruzados. E se ele se ofereceu, foi uma opção dele.
    Para estas mulheres, não há opção.
    As pessoas que vão de joelhos não sei quantos km até Fátima, fazem-no por opção - e para ganhar algo em troca ou por julgarem ter recebido um favor divino, em troca do seu sacrifício- e acredito que tenham prazer espiritual - embora não entenda esse «negócio divino» de fazer favores em troca de sofrimento...
    Estas mulheres não têm prazer. Morrem para nada. Ou, o que é pior, para que seja perpetuada uma mentalidade que deveria ser incompatível com a era dos telemóveis.
    A relação com a Páscoa é que as pessoas que hoje lamentam o sofrimento de Cristo nada fazem para impedir o sofrimento dessas mulheres. Tal como as que acenderam velas por Timor e atiram «pedras» de indiferença à miséria que lhes está próxima.
    Ainda bem que fizeste a pergunta. Eu estava tão irritada quando fiz o post que me esqueci de esclarecer a relação. Presumo que as pessoas que pensam como eu a compreenderam mas, naturalmente, o post dirige-se, sobretudo, à consciência das «outras».
    bjs

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  3. Agora está tudo devidamente esclarecido. Depois de ler a resposta, ainda concordo mais do que após ter lido o post. Oportuno, além do mais.

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  4. Mentalidade incompatível com a era dos telemóveis??!!! Pois a mim salta-me a tampa precisamente com esta era dos telemóveis, e com a sua mentalidade. É o nosso tempo. O 25 de Abril é uma palhaçada tão grande quanto o Cristianismo, apenas não tão antiga. (Embora eu os veja apenas como projectos inacabados, porque acredito na utopia) Vivemos numa sociedade de consumo vergonhosa. Eu vivi a miséria de perto, e nunca mais fui a mesma. Nos primeiros dias, ao regressar, Portugal parecia-me um cenário de ficção científica. Enquanto uma minoria se esbarriga e se aborrece com bens dispensáveis, uma maioria se debate com fome e carências básicas graves. Qualquer pessoa que viva com mais do que o estritamente necessário participa na culpa da miséria no mundo. Eu incluo-me nisto, porque não tive a coragem de deixar tudo para ser voluntária a vida toda, depois de tudo o que vivi e vi... Tudo o resto são ideologias ocas.

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  5. Anónimo, desculpe a pergunta mas a que propósito trouxe para aqui o 25 de Abril?
    E permita-me que discorde: nem o cristianismo nem o 25 de Abril são palhaçadas - ou a palavra tem sentidos muito diferentes para cada um(a) de nós. São ambos casos muito sérios - só não são/foram aquilo que agora se diz que foram/são.
    Eu não vivi essa miséria a que alude de perto, mas, apesar da minha falta de vista, não precisei de ir à Índia (penso que é a isso que se refere, se é que sei, como julgo, a autoria do comentário)para me revoltar contra os vários tipos de miséria que me rodeiam.
    Eu não quereria ser voluntária a vida toda, nem me envergonho por isso. É que pensar em ser voluntária a vida toda é aceitar a imutabilidade das coisas. Eu não quero ajudar os miseráveis; quero é contribuir para que cada vez haja menos. É pouco o que posso fazer? Pois é todo esse pouco que eu faço. E que o pouco nunca seja pretexto para abrir a porta ao nada! É que, multiplicados os poucos, faremos um muito! Mas por mais que se multiplique o nada, o resultado é sempre nada!

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  6. post escriptum: o que é «o estritamente necessário»!?
    Tive em tempos uma colega que afirmava não poder sobreviver sem um bom tinto e uma boa tábua de queijos à tardinha!
    E, para a formiga, o canto era desnecessário...
    Não me diga que para si também é?!

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  7. Uma vez que o segundo comentário vinha na sequência do primeiro, não senti necessidade de identificar-me. Peço desculpas se a sua autoria não era clara...

    Quanto ao 25 de Abril, vem a propósito da visão que eu tenho de Jesus Cristo, bem longe da beatice bacoca do coitadinho que foi apedrejado para salvar os pecados do mundo. Para mim ele foi um dos primeiros e principais revolucionários da história. Quanto a serem palhaçada, o Cristianismo e o 25 de Abril, não me exprimi bem. Palhaçada é precisamente a leitura que a grande maioria faz deles, e tom das comemorações com eles relacionadas. Assim como a Igreja se diz portadora da mensagem de Jesus quando na verdade, grosso modo, fez e faz um excelente trabalho em precisamente abafar essa mensagem, também o Estado o fez e faz em relação aos ideais da Revolução de Abril. Ambos são processos revolucionários inacabados.

    Não acredito que ser voluntária a vida toda seja aceitar a imutabilidade das coisas. Mudamos tudo aquilo em que tocamos. Viver a miséria de perto é muito diferente de sabê-la, e diariamente senti que cada toque, cada olhar e cada sorriso, muito mais do que o trabalho em si, tinham a capacidade de mudar as coisas. Mas claro que não acho que todos deviam largar tudo para serem voluntários. Há tanta coisa para se fazer em tantas frentes, cada um conforme as suas capacidades... E sim, o "estritamente necessário" varia muito de pessoa para pessoa. Mas a sociedade de consumo faz-nos acreditar que precisamos de mais do que realmente precisamos e diminui progressivamente a nossa capacidade de sentirmos prazer com as coisas.

    Quanto ao canto... Poucas vezes devo ter cantado tanto como quando vivi em Calcutá. A canção não só é uma arma, como um excelente remédio e um modo precioso de comunicar.

    Um beijo,
    MJ

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  8. agora está mais claro, claro!
    :-)
    quanto ao canto, eu sei que o valorizas - mas ignorarás tu que há muito quem o considere inútil?
    Quanto à miséria, MJ, calculando que eras tu, estava a fazer-te um crítica por só a miséria extrema ter sido capaz de te tocar - e só aí te teres sentido útil.
    Quanto ao ser voluntária para toda a vida, era também uam crítica; é que, a pretexto de não ousares o «tudo» esqueces o muito que poderias fazer e até o pouco. Por outro lado,continuo a afirmar que não é só em contexto de miséria extrema que podemos actuar e que podemos e devemos trabalhar para EXCLUIR as misérias da face do planeta - e isso está até mais ao teu alcance.
    Sabes que penso que só o saber (saber ser) liberta. Quanto mais saber ajudares a conquistar, quanto mais saber ser ajudares a desenvolver, mais ajudarás na libertação
    ;-)
    bjs

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  9. Querida OF:

    A primeira crítica, aceito-a tal carapuça que me acenta como uma luva, mal grado a "confusão vestuária". Sempre me foi difícil viver fora dos extremos, embora esteja a melhorar, com a idade...
    Em relação à segunda, embora não ouse o "tudo" creio não estar atolada no nada. Mas tenho de reconhecer que poderia fazer muito mais. Enfim, como digo muitas vezes, eu ainda estou aqui e a história está longe de estar terminada.
    Enfim, parece que finalmente nos entendemos, ai que duas mocinhas tã difíceis! ;-))

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