segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sabe o que é.....?

(Nota prévia: porque já por aqui tive «tresleitor@s», vou já avisando que o texto que se segue pretende ser irónico!)

Sabe o que é um «homicídio gay»?
Eu também não. Continuei sem saber, mesmo depois de ler, no Público (leu bem, não foi no Correio da Manhã nem n' O Crime nem no 24 Horas), a notícia que tem como título «brilhante»: «O travesti e o comerciante chinês: a história do segundo homicídio gay no país em três dias».
Lida a notícia, ficaram-me algumas dúvidas:
- O que é um homicídio gay?
- Quantos homicídios hetero houve, no mesmo período? E quantos lésbicos? E quantos bi? E quantos trans? E quantos metro? E quantos «nem carne nem peixe»? (roubei a eloquente e elegante expressão ao articulista)
- José Bento Amaro é gayfóbico?
- Onde aprendeu José Bento Amaro a escrever?
  • repare-se como troca as ordens nesta «sóbria» passagem: «[...] “Não, não acredito que o rapaz tenha morto ninguém”, disse uma funcionária de um estabelecimento comercial localizado no rés-do-chão do mesmo prédio que alberga a Residencial Ipanema, a mesma onde vítima e suspeito residiam, o primeiro em permanência, o segundo, supostamente, até realizar os negócios de roupa que haveria de levar para a sua loja nos Açores».
  • repare-se na pertinência das informações e no fino recorte da linguagem: «o suspeito também foi apontado como alguém que “não é carne nem é peixe, é uma coisa estranha que veste umas calças esquisitas e tem rabo-de-cavalo”. »; «o casal de empregados de serviço abanou a cabeça, em simultâneo, por duas vezes, dizendo que não falava português e que não sabia o que se passara na rua, na quinta-feira, e depois, como uma equipa de natação sincronizada, virou costas e manteve-se imóvel, de cabeça baixa.»;

Bem, talvez os mais inteligentes consigam perceber o que é um homicídio gay, posto que, para que melhor se entenda, o jornalista fez o favor de dar outro exemplo:

«Este homicídio, supostamente resultante de desavenças após actos sexuais entre a vítima e o autor, foi o segundo crime do género ocorrido no espaço de três dias em Portugal. Na terça-feira, em Carriço, Pombal, um manobrador de máquinas atou e amordaçou o companheiro, com quem vivia, e de seguida abateu-o com dois tiros de pistola.»

UF! Pelo menos fiquei a saber que um homicídio gay não é atirar gasolina para cima de uma pessoa e atear-lhe fogo. Também pode ser com pistola.

E fiquei a saber outra coisa: os gays não dão socos nem chapadas, nem pontapés: isso não é suficientemente violento para um gay, a julgar pelo discurso deste iluminado jornalista: «Embora em Portugal não existam estatísticas sobre violência doméstica entre casais do mesmo sexo, os crimes que envolvem homossexuais, quase sempre, [são]revestidos de grande violência.».

Mas o homem é parvo, ou faz-se?! Então se na maior parte das vezes ninguém sabe dos socos que os maridos dão às mulheres (ou vice-versa), porque se iria saber da violência que ocorre no seio dos casais do mesmo sexo?

Mas, desejoso de nos manter informados, o jornalista aponta outro caso «recente»: «No início da década de 1990, os ciúmes levaram um homem a atear fogo ao namorado, a metê-lo numa mala de viagem e a lançá-la para o café decrépito e há muito encerrado na retaguarda da Fonte Luminosa, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa.».

Ora aí está: quando um homem imola uma mulher ou vice-versa, tem o decoro de não a/o atirar para um café decrépito. Francamente! Um café decrépito e, sublinhe-se, « há muito encerrado na retaguarda da Fonte Luminosa, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa.»! É mesmo coisa de gay!

* * * *

A boa notícia é que houve comentadores que se insurgiram contra este mau exemplo de jornalismo.

A má notícia são os outros comentadores...

3 comentários:

  1. Oh Stora!
    Será que o senhor que se diz jornalista não veio do Entroncamento, tal fenómeno de incontinência verborreica...

    E quem autorizou semelhante "brinde" veio donde?

    Começo a sentir-me gay... De navalha em punho devo ser... E posso acumular? Ser empregada da limpeza e gay tudo junto e em simultâneo?

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  2. Prof.,

    é de lamentar, com efeito.

    Mais um a fazer concorrência ao 24 Horas, ao Crime e ao Correio da Manhã.

    Será este jornalismo que vende em Portugal?


    Um abraço

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  3. Prof,

    Não sei se me ria, se dê um murro no articulista... apesar de ser contra a violência, raios me partam se às vezes não apetece! Mas o homem é, decididamente, diminuído, por isso há que dar-lhe algum desconto. Infelizmente, nem sequer é o único da sua espécie a escrever por aí...

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