quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Alguns comentários ao texto do Dr. Daniel Sampaio (texto integral)

(A parte que foi acrescentada hoje está a verde)
"O Natal que eu quero", por Daniel Sampaio

Ninguém me pediu opinião, eu sei. Na escola é costume não ligar muito ao que pensam os alunos. (Fale por si: na escola democrática os alunos são ouvidos a vários níveis). Mas eu gramo a escola, gosto dos meus amigos e há uma data de professores que até são fixes. (Acredito que há muitos alunos que, para além de «gramarem da escola», gostam de estudar. Por outro lado, o conceito de professor fixe, neste contexto, não está aqui clarificado mas...). Ando no 8.º, tenho bué de disciplinas, algumas não dá para entender. Estudo acompanhado para um gajo de 14 anos? (no ensino superior existe uma coisa que é Orientação Tutorial, que é uma espécie de estudo acompanhado; e atendendo a que a «democratização do ensino só se verificou em número e não em adaptação à nova realidade, o estudo acompanhado faz sentido, sim - só não faz para os filhos dos «doutores», já que os pais têm dinheiro para pagar a explicadores!)Formação Cívica? Não percebo bem, é uma coisa de 90 minutos por semana em que o stôr, que é o director de turma (nós dizemos DT), está sempre a mandar vir, a dizer para nos portarmos bem (Que preparação foi dada, pelo ministério, aos docentes dessa disciplina? Mesmo assim, há professores de educação cívica que fazem outras coisas; por isso, já há alguns alunos que conseguem dar lições de cidadania a muitos adultos). Da Matemática não me apetece falar, o stôr tem pouca pachorra para tirar dúvidas (Eureka! finalmente alguém revelou o motivo do insucesso a matemática! Que estereótipo batido!). História é um bocado seca e percebo mal o livro, faço confusão porque não contam a vida dos reis como o meu avô me explicava, por isso estudo para os testes e depois esqueço tudo (Afinal o avô é que devia ser professor (ironia). Talvez o Dr. Sampaio tenha tido um avô especial - e professores de história especiais! É que DANTES é que a história era dada de forma a colar com cuspo e esquecer no dia a seguir ao teste!).Não, não pensem que venho aqui criticar a escola, já disse que gosto de lá andar (Ainda não fez outra coisa, para além de dar uma péssima ideia deste «aluno»). O problema é que aquilo anda mesmo esquisito, podem crer. Já o ano passado os stôres andavam às turras com a ministra e apareciam nas aulas chateados, um gajo mandava uma boca e levava logo um sermão (Afinal os professores só tentam manter a ordem e o respeito quando estão chateados? Só nessas alturas é que reagem às bocas dos alunos?! Ainda por cima isso (manter o respeito) é apresentado como uma coisa má; ainda por cima, acusa os professores de descarregarem as frustrações nos alunos!), às vezes diziam mesmo para nos queixarmos à ministra (OK, já entendi: a crónica foi encomendada pela ministra: ela é que diz que os professores acicatam os alunos contra o ministério), como se chibar fosse coisa que desse jeito (finalmente este menino lá apresenta uma característica positiva: não gosta de chibar. Mas os professores são uns instigadores à denúncia -IRONIA).


Mas este ano está bem pior: falamos com os professores nos intervalos, "olá, stôr!" e eles andam mesmo tristes (triste é um eufemismo; as pessoas andam descontentes, o que significa outra coisa), a minha stôra de Inglês, que eu curto bué, diz que está "desmotivada" e que está farta de grelhas de avaliação e de pensar em objectivos (ficamos sem saber porque é que ESTE aluno «curte bué» ESTA professora; o que sabemos é que os professores começaram a SER DESMOTIVADOS pelo ministério há muito tempo mas, mesmo assim, continuam a desempenhar a sua função dedicada e empenhadamente; o que sabemos é que o ministério não explicou convenientemente como, porquê, para quê a definição de objectivos nem que contributo vai dar para ajudar a alcançá-los; o que sabemos é que, desde o primeiro ano em que entra em funções o docente tem de manusear grelhas de avaliação pelo que sabe muito bem quais as úteis e exequíveis e as inúteis - estas emanadas do ministério são inaplicáveis!!! O que sabemos é que os professores já perdem muito tempo com coisas inúteis quando o que desejam é contribuir para a melhoria da educação em Portugal) . Eu de grelhas não percebo nada e, quanto aos objectivos, os meus são divertir-me uma beca e passar o ano (nunca os alunos tinham sido tão estupidificados, desde que entrámos teoricamente em democracia), não quero mesmo ficar para trás porque os meus pais dão-me nas orelhas e fico sem os meus amigos, que é uma das coisas porreiras que a escola tem (2 bons motivos para não reprovar - IRONIA; é por isso é que a ministra, que gosta muito de criancinhas, está a tentar tudo para que passem todos, mesmo sem ter progredido - aliás, de preferência sem ter progredido SEM IRONIA! ).Por isso peço a todos que se entendam. Ver os professores aos berros na rua (eu não vi professores aos berros na rua: vi professores em manifestações ordeiras gritando palavras de ordem - faz toda a diferença, não faz?!) é uma coisa que eu compreendo, têm todo o direito porque nós às vezes também andamos (bela comparação, muito honrosa para ambos os lados! IRONIA; e não é por os estudantes andarem aos berros ou se manifestarem que os professores têm direito a manifestar-se; é porque, até ver, ainda estamos num estado democrático), o problema é que assim ainda há menos gente a preocupar-se connosco (ERRADO: Um dos motivos que leva os professores para a rua é a preocupação que têm com os alunos! A genuina preocupação com o futuro dos alunos!). Os nossos pais não têm tempo, andam sempre a trabalhar e ficam descansados porque estamos na escola a aprender e a lutar pelo nosso futuro (Já cá faltava a crítica aos pais - seria oportuna, se acompanhada de uma reivindicação de criação de legislação que permitisse o apoio a filhos menores. E não, não ficam descansados, os pais; ficam é cada vez mais inquietos, quando deixam os filhos na escola - porque sabem que há ratos nas cantinas; porque sabem que há booling nos recreios; porque sabem que há traficantes de droga à porta das escolas - e lá dentro; porque sabem que há pedófilos a rondar a escola e até sabem que um homem acusado de pedofilia foi integrado numa escola, pelo ministério, mesmo sem ter ainda sido ilibado. E -pasmai, ó gentes - ESTE rapaz, com a linguagem do curtir bué e que só quer passar para não apanhar dos pais nem perder os amigos, vem agora - finalmente - falar da escola como um local onde se aprende e prepara o futuro - não me parece coerente; se fosse um aluno meu a imaginar este texto, levava aqui uma chamada de atenção para a necessidade de coerência), mas agora a coisa está preta (eu acho que esta expressão não devia ser usada, não por ser importada do brasil mas por reflectir aspectos de uma cultura racista que não desejo prolongada mas... aqui é de somenos); se os nossos stôres estão cansados, o que é mau para nós: quem nos ajuda quando estamos aflitos (o que é estar aflito???)? Eu sempre contei com um ou dois dos meus stôres, o ano passado quando me achava um monstro (cheio de borbulhas e a sentir que as miúdas não olhavam para mim) (Ok, entendi, é isto que é estar aflito) foi a stôra de Português que me chamou no fim da aula e conversou comigo, bastou ela ouvir com atenção e dizer que compreendia o que eu sentia para me sentir muito melhor (boa! as coisas que eu aprendo com este mail!

1º- as stôras de português servem para ouvir com atenção (ou será em silêncio?) os problemas dos alunos, no intervalo, e dizerem que compreendem;
2º- para resolver os problemas de auto-estima dos alunos não é preciso ter formação científica em psicologia; basta dizer «Compreendo»; ou «I understand»; ou mesmo «ya, tou a morder»IRONIA). E quando o Tavares disse que se ia matar porque a rapariga com quem andava foi vista a curtir com um gajo qualquer, foi o nosso DT que falou com ele e lhe arranjou uma consulta no psicólogo (bem, se a a rapariga com quem o Tavares andava foi vista a curtir com um gajo qualquer, isso já é caso para psicólogo, claro! E é essa a função do DT: marcar consultas nos psicólogos -será que ganham comissão? IRONIA).Não percebo nada da guerra dos professores (não, não é uma guerra, é um movimento de protesto, um movimento em defesa da educação) , só sei que deve ser justa porque eles esforçam-se muito, já pensaram no que é aturar a malta, sobretudo alguns que só querem fazer porcaria, põem-se aos berros nas aulas e não obedecem, às vezes até palavrões dizem para os stôres (está a confusão armada. Então afinal todas as pessoas que se esforçam só defendem causas justas? Hitler esforçou-se muito, logo, a causa dele era justa. Não, não estou a comparar a movimentação dos professores com o «Mein Kampf»; estou a tentar mostrar a idiotice de argumentação, demagogicamente usada para afastar o pensamento daquilo que dá efectivamente razão aos professores! E acaso os professores andam a manifestar-se porque os alunos dizem palavrões? E no que é que os palavrões são para aqui chamados?! Para insinuar que os professores não se sabem dar ao respeito? Talvez fosse melhor não entrarmos por aí...) Muitos de nós querem aprender (esta agora é nova! IRONIA), mas o barulho é grande e há muita confusão (eu não dizia que era aí que ele queria chegar? à falta de competência dos professores para imporem disciplina?! DIS-CI-PLINA!), há lá gajos, repetentes e isso (DEIXA LÁ, RAPAZ, QUE COM ESTA MINISTRA VAI DEIXAR DE HAVER REPETENTES!) , que só lá estão porque são obrigados (ora aí está um aspecto que se devia esclarecer - quem os obriga e porquê; que desfazamento há entre a escola que temos e a que faria com que esses jovens gostassem de lá andar) depois há outros que são de fora e não percebem bem português (até parece que os portugueses todos percebem bem português... Daniel Sampaio está a querer criticar a xenofobia de algumas famílias, está a ser xenófobo ou está a criticar o sistema educativo por não dar um enquadramento adequado aos filhos de imigrantes?), outros ainda têm problemas em casa e passam mal, a Vanessa que tem um pai alcoólico e que chora quase todos os dias ainda por cima foi empurrada na aula por um colega que só lá está a armar confusão o DT disse que nós devíamos ser responsáveis e que tínhamos de acabar com isso (estava a redigir tão bem... agora deixou de saber pontuar... ou será porque assim tudo atabalhoado nós nem nos apercebemos de que se desvia da questão? E «acabar com isso»... o quê?) , mas eu acho que a ministra devia era dar força aos professores para serem melhores (dar força?! que força?! melhores?! como?! em que sentido?! estamos a falar de problemas sociais que interferem com a Escola, ou do modelo de avaliação de professores? Se o «email» tivesse sido escrito por uma criança... compreendia-se. Mas foi esctita por um adulto a fazer-se passar por criança e que, depois de ter estruturado muito bem o discurso, começa a baralhar tudo - para confundir quem?!), o meu pai diz que ela às vezes está certa mas eu não concordo, se vejo todos, mesmo todos os stôres da minha escola contra ela devem ter razão, os professores às vezes erram mas são importantes para nós, precisamos de estudar para ver se nos livramos do desemprego, isso é que é verdade (lá está a salada russa novamente - sem ofensa para os russos! Vamos por partes: Se estão todos, mesmo todos contra a ministra «devem ter razão» - mas logo a seguir diz-se que eles às vezes erram - Não são como o nosso PR, pois então! IRONIA. «erram mas são importantes para nós», tudo na mesma frase, com uma adversativa maldosa, virulenta a ligar... retoricamente brilhante! Mas diga-nos, Dr. Daniel Sampaio: erram em quê? É preciso concretizar. Toda a gente erra e toda a gente é importante para toda a gente porque, como dizia o meu vizinho, todos juntos é que sabemos tudo. Para quê esta referência ao erro? Aqui!? Já quase no fim!? Mas que erros? de que raio de erros está o senhor a falar?! - Não sabemos , e isso é grave porque assim não podemos contestar. Pois digo-vos eu que o Dr. Daniel Sampaio, às vezes, defeca! Ai podem crer que sim!
E reparem que finalmente se fala na necessidade de ESTUDAR mas... para se livrarem do desemprego - não é pelo prazer do conhecimento, claro, que isso de ter prazer em aprender é perigoso para o sistema - e é só para doutores!!)
Por isso espalhem este mail, façam forward para quem quiserem. Digam aos que mandam para terminarem com as discussões (já dizia a outra senhora que fazia falta um intervalo na democracia; pois está claro: uns meses de ditadura até novas eleições e isto vai tudo ao lugar e o bloco central continua no poleiro! «DIGAM AOS QUE MANDAM PARA TERMINAREM COM AS DISCUSSÕES» E como é que isso se faz, como é? Como é que os que mandam terminam com as discussões? No meu tempo era com a polícia de choque, os gorilas, a GNR que disparava para o ar e matava os «manifestantes voadores»!)que já estamos fartos e como na minha escola somos todos contra isso dos ovos (uma estupidez) (boa! não podia ser tudo mau; agora que se disse que os professores erram e que os que mandam devem parar com as discussões (vulgo calar o bico à malta), convém passar uma imagem de credibilidade deste puto e fazê-lo passar por porta-voz dos que são contra os ovos), digam à ministra e aos sindicatos que já chega (Já chega? mas ainda não chegámos a lugar nenhum!!! E para que são os sindicatos chamados para aqui?! Não foi óbvio que eles não defenderam os interesses dos professores? Não foi óbvio que os sindicatos apanharam boleia quando viram que, desta vez, os professores não se ficavam com a faca nas costas?!)! Façam uma escola melhor (E como se faz uma escola melhor? sentadinhos, à espera, para ver o que acontece, como a nêspera do poema de Mário Henrique Leiria?), ajudem os professores a resolver todos os problemas das aulas (ninguém pode fazer isso em vez dos stôres) (MAU! vamos lá ver se nos entendemos: primeiro quer que a ministra e os sindicatos ajudem os professores a resolver os problemas das aulas e depois diz que só os professores é que os podem resolver?! AH! Já entendi: quando for para dar ordens, a ministra e os sindicatos podem intervir; quando for para apontar o dedo acusador por causa do insucesso, da violência, etc, só os professores é que podem resolver, ou seja, só eles é que têm culpa se não for resolvido) e arranjem maneira de nós aprendermos mais (Ai agora já quer APRENDER mais? Já não quer só transitar de ano?!), para ver se percebemos melhor o mundo e nos safamos (pois é, a ver se se safam como o Dr se tem safado...IRONIA), o que está a ser difícil.
Quem quiser dê opinião, o meu mail é brunovanderley@gmail.com, sou do 8.º E da Escola Básica 2/3 do Lá Vai Um. (Na escola do Lá Vai Um terá o Dr Daniel Sampaio andado! )

2 comentários:

  1. Prof,

    E pronto, já li na íntegra a sua desmontagem do famoso email. Não perdoou nada ao homem, está bem de ver. Há que dar algum desconto, porque é óbvio que ele não percebe nada de ensino, nem de lutas por causas justas, nem de alunos, nem de avaliação... e etc..

    Mas, assim sendo, mais lhe valera estar calado. Digo eu.

    O seu trabalho foi notável. Além do mais, glosar gozando. E, quando se tem razão, tudo se compreende.

    Parabéns!

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  2. Desmontaste o discurso do "Dr" Sampaio de um modo espectacular !!

    Eu ando demasiado exausta e desgastada para fazer proezas dessas!
    Os meus parabéns!

    Bjs

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