terça-feira, 9 de dezembro de 2008

mais um....


Deixei de ter admiração por Daniel Sampaio quando o ouvi apresentar uma comunicação num encontro promovido pela associação criativa. Depois de uma entrada demagógica com a oferta simbólica de uma flor a «todas as professoras presentes!», que disse não ser demagogia mas depois não conseguiu explicar para que era, fez, entre outras, as seguintes afirmações brilhantes: «A turma não existe; o que existe são os indivíduos»; «Colocar computadores nas escolas não serve para nada». Claro está que, no momento do debate, me peguei com ele.

Depois, perdi a consideração por ele quando, estando o seu irmão como presidente da república, ele foi primeira página dos jornais incitando os jovems a depor o governo (de Santana Lopes) - como se não estivéssemos em democracia e não fosse competência do PR demitir o governo....

Uma vez ou outra ainda li algumas das suas crónicas na «Pública» mas arrependia-me sempre, ficava irritada e não aprendia nada.

Hoje recebi uma dessas crónicas por e-mail. Como me chegou através de uma professora aposentada, tive curiosidade de ler. Arrependi-me novamente. Mais um idiota a armar em engraçado, a dar uma no cravo e outra na ditadura (não foi lapso) e a falar do que não sabe.

Na minha opinião, este texto de Daniel Sampaio começa por ofender os alunos (e em particular os brasileiros -vd e-mail fictício no fim do texto), continua ofendendo os professores (que pelos vistos só são bons quando desempenham também o papel de pais, mães, amigos, confessores e psicólogos em acumulação mas sem remuneração ) e termina ofendendo quem perde tempo a ler.
Neste texto insinua-se que
- os professores quando estão mal dispostos descarregam nos alunos;
- os professores incitam os alunos contra a ministra;
- os professores incitam os alunos a «chibar»;
- o bom professor é o que faz de pai, mãe, confessor, assistente social, psicólogo... mesmo sem ter formação científica para tal e sem ter tempo no horário para se dedicar a todas essas humanidades;
... e mais algumas coisas que verão, se não se limitarem a soletrar.

Espero não ser a única a ter as tripas a dar voltas com este... coiso....
"O Natal que eu quero", por Daniel Sampaio

Ninguém me pediu opinião, eu sei. Na escola é costume não ligar muito ao que pensam os alunos. Mas eu gramo a escola, gosto dos meus amigos e há uma data de professores que até são fixes.Ando no 8.º, tenho bué de disciplinas, algumas não dá para entender. Estudo acompanhado para um gajo de 14 anos? Formação Cívica? Não percebo bem, é uma coisa de 90 minutos por semana em que o stôr, que é o director de turma (nós dizemos DT), está sempre a mandar vir, a dizer para nos portarmos bem. Da Matemática não me apetece falar, o stôr tem pouca pachorra para tirar dúvidas. História é um bocado seca e percebo mal o livro, faço confusão porque não contam a vida dos reis como o meu avô me explicava, por isso estudo para os testes e depois esqueço tudo.Não, não pensem que venho aqui criticar a escola, já disse que gosto de lá andar. O problema é que aquilo anda mesmo esquisito, podem crer. Já o ano passado os stôres andavam às turras com a ministra e apareciam nas aulas chateados, um gajo mandava uma boca e levava logo um sermão, às vezes diziam mesmo para nos queixarmos à ministra, como se chibar fosse coisa que desse jeito. Mas este ano está bem pior: falamos com os professores nos intervalos, "olá, stôr!" e eles andam mesmo tristes, a minha stôra de Inglês, que eu curto bué, diz que está "desmotivada" e que está farta de grelhas de avaliação e de pensar em objectivos. Eu de grelhas não percebo nada e, quanto aos objectivos, os meus são divertir-me uma beca e passar o ano, não quero mesmo ficar para trás porque os meus pais dão-me nas orelhas e fico sem os meus amigos, que é uma das coisas porreiras que a escola tem.Por isso peço a todos que se entendam. Ver os professores aos berros na rua é uma coisa que eu compreendo, têm todo o direito porque nós às vezes também andamos, o problema é que assim ainda há menos gente a preocupar-se connosco. Os nossos pais não têm tempo, andam sempre a trabalhar e ficam descansados porque estamos na escola a aprender e a lutar pelo nosso futuro, mas agora a coisa está preta, os nossos stôres estão cansados, o que é mau para nós: quem nos ajuda quando estamos aflitos? Eu sempre contei com um ou dois dos meus stôres, o ano passado quando me achava um monstro (cheio de borbulhas e a sentir que as miúdas não olhavam para mim) foi a stôra de Português que me chamou no fim da aula e conversou comigo, bastou ela ouvir com atenção e dizer que compreendia o que eu sentia para me sentir muito melhor. E quando o Tavares disse que se ia matar porque a rapariga com quem andava foi vista a curtir com um gajo qualquer, foi o nosso DT que falou com ele e lhe arranjou uma consulta no psicólogo.Não percebo nada da guerra dos professores, só sei que deve ser justa porque eles esforçam-se muito, já pensaram no que é aturar a malta, sobretudo alguns que só querem fazer porcaria, põem-se aos berros nas aulas e não obedecem, às vezes até palavrões dizem para os stôres? Muitos de nós querem aprender, mas o barulho é grande e há muita confusão, há lá gajos, repetentes e isso, que só lá estão porque são obrigados, depois há outros que são de fora e não percebem bem português, outros ainda têm problemas em casa e passam mal, a Vanessa que tem um pai alcoólico e que chora quase todos os dias ainda por cima foi empurrada na aula por um colega que só lá está a armar confusão... o DT disse que nós devíamos ser responsáveis e que tínhamos de acabar com isso, mas eu acho que a ministra devia era dar força aos professores para serem melhores, o meu pai diz que ela às vezes está certa mas eu não concordo, se vejo todos, mesmo todos os stôres da minha escola contra ela devem ter razão, os professores às vezes erram mas são importantes para nós, precisamos de estudar para ver se nos livramos do desemprego, isso é que é verdade!Por isso espalhem este mail, façam forward para quem quiserem. Digam aos que mandam para terminarem com as discussões que já estamos fartos e como na minha escola somos todos contra isso dos ovos (uma estupidez), digam à ministra e aos sindicatos que já chega! Façam uma escola melhor, ajudem os professores a resolver todos os problemas das aulas (ninguém pode fazer isso em vez dos stôres) e arranjem maneira de nós aprendermos mais, para ver se percebemos melhor o mundo e nos safamos, o que está a ser difícil.
Quem quiser dê opinião, o meu mail é brunovanderley@gmail.com, sou do 8.º E da Escola Básica 2/3 do Lá Vai Um.

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