segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

«A casa pia da ministra da educação»

A polémica foi relativamente silenciosa. Mas fez-me lembrar um post que escrevi há tempos e um dito popular de que não gosto mas que infelizmente muitas vezes vejo que reflecte uma realidade: «Não sirvas a quem serviu»(voltarei a isto, no fim)
Não conheci a realidade Lisboeta. Conheci a da minha cidade. Os alunos e alunas do «Liceu» eram os «Bifes»; os e as estudantes da Escola Industrial e Comercial eram as «Costeletas». Isto dá uma ideia do elitismo que vigorava no Liceu e que levava à discriminação da Escola.
Para o Liceu iam os estudantes que desejavam prosseguir estudos superiores; para a Escola Industrial e Comercial iam os que desejavam entrar rapidamente no mundo do trabalho. As estudantes «Bifes», regra geral, não se davam com as «Costeletas» e muito raramente havia relacionamentos amorosos a unir os dois estabelecimentos de ensino.
Dizia-se que, na Escola Industrial e Comercial, a preparação nas áreas das humanidades era muito fraca mas, em compensação, nas electricidades e outras tecnologias era superior à do Liceu.
Começo, agora, a perceber um pouco melhor a atitude da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Para além de uma eventual fraca preparação nas humanidades, o contacto com o corpo docente que agora alegadamente ministra (digo alegadamente porque, etimologicamente, o ministro é o que serve) foi muito pouco. Não nos esqueçamos de que este governo retirou o ensino superior do ministério da educação (sem comentários!). O contacto, dizia, foi pouco, imaturo e, eventualmente, numa situação de humilhação (se por Lisboa as coisas se passavam como na minha cidade e tudo leva a crer que sim). A senhora, se não tiver reprovado, contactou com esta classe profissional apenas até aos 15 anos; eventualmente, mais 2 do magistério primário, embora estes tivessem um estatuto algo diferente.
Deve ser isso, deve. Falta de conhecimento. Não, não quero pensar que ela, por ter sido humilhada enquanto estudante, aproveite agora para humilhar os docentes.
Mas um mérito lhe devo reconhecer: tanto quanto julgo saber, a classe dos professores era a mais dividida (professores do 1º ciclo; professores do 2º ciclo; professores do básico e secundário; professores dos complementares; professores provisórios (não sei qual a designação actual); professores com habilitação específica; professores com habilitação própria; professores de trabalhos oficinais - os antigos alunos das escolas industriais e comerciais, que continuavam, enquanto professores, a ser discriminados; professores agregados; professores efectivos; professores profissionalizados – e agora mais os titulares e os titulares avaliadores. Depois havia os do ensino superior politécnico e os do universitário – mas esses, agora, estão noutra gaveta.
Pois dizia eu que esta ministra conseguiu unir a classe; é bonito vê-los todos juntos, por uma mesma causa – a da educação. Claro que também conseguiu tirar toda a credibilidade a quem leva a profissão a sério, sem ter aumentado a dedicação de quem lá está de passagem… mas isso, agora, não interessa nada!

1 comentário:

  1. Prof,

    Sim, esta senhora ministra conseguiu mesmo o milagre de unir os professores. Não creio, e peço desculpa por contrariar o que diz, que tenha conseguido tirar credibilidade a ninguém, excepto a si própria: "A verdade vem sempre ao de cima, como o azeite", já que estamos em maré de ditos.

    Que farão agora os professores com esta união?

    Boa semana!

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